Bullying
Infelizmente ainda não temos uma palavra em português para juntar todas as ações do bullying: ameaçar, intimidar, humilhar, bater, isolar, excluir etc. etc. Por isto é que usamos bullying, termo que tem como definição "um ato agressivo intencional, repetitivo e que envolve o poder entre o agressor e a vítima".
A linha que divide o bullying de uma simples brincadeira é bem fina, clara, quase imperceptível, daí a dificuldade de ser identificado. Em uma brincadeira todo mundo se diverte, ela é saudável, gostosa, alegre e deve estar presente nas nossas relações. Já no bullying, enquanto muitos se divertem alguém sofre, e como sofre! Na brincadeira, o prazer é de todos. No bullying alguém é feito de brinquedo e não acha graça.
"O verdadeiro bullying só acontece em situações em que os mais novos se encontram por conta própria, sem a companhia e a tutela de adultos, sem ainda ter condições para tal. Se você tem filhos, não os prive da companhia de colegas diferentes no comportamento, na idade etc. Esses relacionamentos, mesmo conflituosos, são verdadeiras lições de vida para eles que, assim, aprendem a criar mecanismos de defesa, a avaliar riscos e, principalmente, a reconhecer as situações em que precisam pedir ajuda." - (palavras de Camila Colla Duarte Garcia, psicóloga formada pela PUC - SP)
A criança menor tem mais facilidade para contar aos pais. Com mais idade, fica mais difícil e as razões são tantas: vergonha, medo de que a agressão aumente, incerteza quanto à ajuda dos adultos, medo da reação dos pais, querer poupar os pais de mais um aborrecimento.
Como em qualquer outro aspecto da educação dos filhos, os pais, além de um diálogo franco, devem ficar atentos a alguns sinais que as vítimas de bullying apresentam, entre eles uma mudança no comportamento, perda da vontade de ir para a escola, queda no rendimento escolar, perda de pertences e dinheiro, queixas físicas que aparecem perto da hora de ir para o colégio, insônia, falta de apetite, choros sem motivo aparente.
É preciso reagir com calma, deixar que a criança fale sem medo, sem muitas perguntas e sem julgar o comportamento do filho. Aconselhamos que não reajam com violência nem com a criança ("você é muito bobão, você precisa enfrentar, dá logo um murro na cara dele pra ele saber quem você é") e muito menos com o agressor ou agressora (há pais que vão diretamente à outra criança, que a ameaçam etc.).
Procurem a escola, conversem com os professores, coordenação ou orientador educacional. Muitas vezes eles negam o fato, dizem que naquela escola não há bullying. Ajam com bom senso, façam uma análise de tudo que ouviram e do que vêm observando no próprio filho ou filha. Exijam que a escola tome providências. Vejam também se seu filho ou filha precisa de ajuda no caso das consequências já serem graves.
E como reagir quando são nossos filhos os agressores?
O agressor também apresenta sinais e características de personalidade que os pais atentos percebem. O problema é que estes agressores em geral são fruto de um lar em que a agressão é a forma de resolver conflitos, em que não há limites, em que o poder autoritário é a forma de educar. Desta forma fica difícil para estes pais admitirem que o comportamento do filho ou filha não é o mais adequado.
A vítima de bullying será sempre alguém mais fraco, física, verbal ou emocionalmente. A criança ou jovem , com facilidade para se defender e se posicionar, dificilmente será escolhida para alvo do agressor, que sabe muito bem, quais de seus colegas, não reagirão. É o maior contra o menor, o mais forte contra o mais fraco, o mais "popular" contra aquele que não tem amigos. O maior fator de proteção ao bullying é ter amigos. A criança que tem dificuldades em estabelecer uma boa rede de amizades, que é muito tímida e submissa se torna um alvo mais fácil para o bullying.
Lembrem-se: o bullying é um ato extremamente covarde, pois o agressor sempre procura alguém que se submeterá a ele.
No caso mais comum de bullying, em que a vítima é passiva, nunca a "culpa" é dela. Há alguns casos em que dizemos que a vítima é provocativa e, portanto, pode ter alguma "participação". Isto, de forma alguma, quer dizer que os educadores devem fechar os olhos e deixar que as próprias crianças resolvam a questão.
As vítimas provocativas em geral assumem basicamente três comportamentos: as que buscam incessantemente atenção, seja de que modo for, aquelas que necessitam constantemente de estimulação e as que buscam vingança, provavelmente porque já sofreram muito bullying. Um exemplo:
Um menino por volta dos 11 anos provocava constantemente um aluno de 17. Jogava bolinha de papel nele, chamava-o de gordo, zoava. O rapaz levava tudo na brincadeira até que um dia, irritado, com mais dois colegas levou o menino para a quadra e abaixou as calças dele na frente de uma "galera". A escola considerou o caso como bullying, suspendeu os rapazes, conversou seriamente com os pais. Este é o caso típico de uma vítima de bullying provocativa.
Como os pais ou responsáveis devem agir?
Em primeiro lugar, é muito mais fácil admitir que o filho está sofrendo bullying do que seu filho ser o agressor.
Se os pais percebem que seu filho ou filha é agressivo em relação a outras crianças, devem assumir um papel vital para ajudar a mudar não apenas o comportamento imediato da criança como também todo o curso de sua vida. É dentro de casa que se ensina a compaixão, o respeito aos outros, a aceitação das diferenças, valores essenciais para uma vida produtiva e a imposição de limites. Nos casos mais sérios, de uma agressão incontrolável, pode ser necessário buscar ajuda de um profissional para uma avaliação mais completa.
No caso da criança ou jovem ser a vítima, analise a situação. Procure a escola, em primeiro lugar e exija a solução do problema. Trabalhe para melhorar a autoestima da criança. Como? Tente inseri-la em atividades para as quais possui habilidades ou procure se orientar quanto a ajudar seu filho a ter mais confiança em si mesmo.
Ao enfrentarem um caso claro de bullying, por mais que doa, tentem manter a calma. O que o seu filho ou filha precisam é da sua compreensão, mais do que vocês resolverem a situação para eles.
Por: Vânia Nunes